Filtro de Daltonismo

Biblioteca Ativa

Poemas Musicados

Flores Astrais

Poema de João Apolinário, musicado por Secos & Molhados

Saiba mais sobre João Apolinário em https://www.escritas.org/pt/joao-apolinario

Letra

Um grito de estrelas vem do infinito

E um bando de luz repete o grito

Todas as cores e outras mais

Procriam flores astrais

Um verme passeia na lua cheia

Viola Quebrada

Lambada de serpente

Poema de Cacaso, musicado por Djavan

Saiba mais sobre Álvaro de Campos em https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa20598/cacaso

Letra

cuidá dum pé de milho, que demora na semente

meu pai disse meu filho, noite fria, tempo quente

lambada de serpente a traição me enfeitiçou

quem tem amor ausente já viveu a minha dor

no chão da minha terra, um lamento de corrente

um grão de pé de guerra, pra colher dente por dente

Canção Amiga

Poema de Carlos Drummond de Andrade, musicado por Milton Nascimento

Saiba mais sobre Carlos Drummond de Andrade em https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa12894/carlos-drummond-de-andrade

Letra

Eu preparo uma canção

em que minha mãe se reconheça,

todas as mães se reconheçam,

e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua

que passa em muitos países.

Se não me vêem, eu vejo

e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo

como quem ama ou sorri.

No jeito mais natural

dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas

formam um só diamante.

Aprendi novas palavras

e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção

que faça acordar os homens

e adormecer as crianças.

Poema de Álvaro de Campos (Fernando Pessôa), musicado por Maria Bethânia

Saiba mais sobre Álvaro de Campos em https://brasilescola.uol.com.br/literatura/alvaro-de-campos.htm

Letra (excerto)

Não sei sentir, não sei ser humano, conviver

De dentro da alma triste com os homens meus irmãos na terra.

Não sei ser útil mesmo sentindo, ser prático, ser quotidiano, nítido

[…]

Vi todas as coisas, e maravilhei-me de tudo,

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco – não sei qual – e eu sofri.

Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos,

E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.

Amei e odiei como toda gente,

Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,

E para mim foi sempre a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.

[…]

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.

Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei

[…]

Seja o que for, era melhor não ter nascido,

Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,

A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,

A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair

Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas,

E ir ser selvagem para a morte entre árvores e esquecimentos

[…]

O Marco Marciano

Poema de Bráulio Tavares, musicado por Lenine e interpretado por Zé Leônidas

Saiba mais sobre Bráulio Tavares em https://editoras.com/author/braulio-tavares/

Letra

Pelos auto-falantes do universo

Vou louvar-vos aqui na minha loa

Um trabalho que fiz noutro planeta

Onde nave flutua e disco voa:

Fiz meu marco no solo marciano

Num deserto vermelho sem garoa

Este marco que eu fiz é fortaleza.

Elevando ao quadrado Gibraltar!

Torreão, levadiça, raio-laser

E um sistema internet de radar:

Não tem sonda nem nave tripulada

Que consiga descer nem decolar.

Construi o meu marco na certeza

Que ninguém, cibernético ou humano.

Poderia romper as minhas guardas

Nem achar qualquer falha no meu plano

Ficam todos em Fobos ou em Deimos

Contemplando o meu marco marciano

O meu marco tem rosto de pessoa

Tem ruínas de ruas e cidades

Tem muralhas, pirâmides e restos

De culturas, demônios, divindades:

A história de Marte soterrada

Pelo efêmero pó das tempestades

Construí o meu marco gigantesco

Num planalto cercado por montanhas

Precipícios gelados e falésias

Projetando no ar formas estranhas

Como os muros Ciclópicos de Tebas

E as fatais cordilheiras da Espanha

Bem na praça central, um monumento

Embeleza meu marco marciano:

Um granito em enigma recortado

Pelos rudes martelos de Vulcano:

Uma esfinge em perfil contra o poente

Guardiã imortal do meu arcano.

Teu Nome Mais Secreto

Poema de Waly Salomão, musicado por Adriana Calcanhoto

Saiba mais sobre Waly Salomão em https://www.itaucultural.org.br/busca?q=waly%20salom%C3%A3o

Letra

Só eu sei teu nome mais secreto

Só eu penetro em tua noite escura

Cavo e extraio estrelas nuas

De tuas constelações cruas

Abre-te Sésamo! – brado ladrão de Bagdá

Só meu sangue sabe tua seiva e senha

E irriga as margens cegas

De tuas elétricas ribeiras,

Sendas de tuas grutas ignotas

Não sei, não sei mais nada.

Só sei que canto de sede dos teus lábios

Não sei, não sei mais nada.

Saiba mais sobre Lirinha em: https://interd.net.br/lirinha-do-cordel-do-fogo-encantado/09/06/2023/

Letra

Conforto alucinante, tranquilidade na clareira do caos

O ponteiro, ele rodou mais rápido no mesmo relógio de ontem

O que as horas guardam nos espaços do contra-tempo?

A mulher?

O desejo é um tempo parado

É quando se trocam as datas dos bichos e das flores

É quando aumenta a rachadura da velha parede

É quando se vira a folha, a folha da história

É quando se pinta um fio branco na cabeleira preta

É quando se endurece o rastro de sorriso

No canto dos olhos

Eu sei que a viagem é longa

A voz vai e vem

Você tá aí?

Você tá aí?

Ei, você está aí?

Vontade de abraçar o infinito

Saiba mais sobre Mário de Andrade em https://www.ebiografia.com/mario_andrade

Letra

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma

(Herói da nossa gente)

Era preto retinto e filho do medo da noite.

Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia.

Macunaíma já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:

– Ai! Que preguiça!…

e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de paxiúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. (Pouca saúde, muita saúva pouca saúde, muita saúva os males do Brasil são).

Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém. (Acuti pita canhém)

(…)

No mucambo si alguma cunhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara. Porém respeitava os velhos e freqüentava com aplicação a murua a poracê o toré o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças religiosas da tribo.